Um mergulho no mundo do Rock ocultista – Ato III

Já avançamos o bastante para sanar uma parte dessa busca incessante? Não, jamais, nunca! Mais peso será adicionado aqui, roupas de brechó, chapéus hipster de bruxa, preto e branco, assuntos clichês e o que mais pode vir à calhar com essa jornada. O culto às alegorias segue firme e forte, o cheiro de mofo se emaranha com o do enxofre, o voo do Dragão, a saliva da Grande Besta, os deuses caídos, o positivo e o negativo, o micro e o macro, as invenções de doidivanas em busca d’algo que não é palpável pelo parco intelecto humano. Caminhemos uma vez mais por essas eiras de notas soturnas, de atmosferas que nos fornecem uma energia primitiva, que nos aterroriza em forma de prazer, que borbulha nosso sangue e arrepia a nossa pele, nossa alma entorpecida e errante se contorce em êxtase, espasmos e tormentos, olhos arregalados e suor, imagens desconhecidas, o inconsciente se expande de tal forma que sorrimos feitos crianças num universo lúdico, repleto de contrastes que soterra esse colorido e nos trazem de volta ao mundo cinzento, fétido e morto. Vejam meus caros, voamos todos os dias e quedamos ao mesmo tempo, esmagados por uma matéria, energia estranha que nos cerca, que nos faz rastejar em busca de algo menos pavoroso para poder fazer este mesmo caminho todos os dias até o findar da nossa existência. Se não fosse a música, nada disso seria possível, se não fosse o culto ao desconhecido somado a isso, o possível seria o nada. Dê-me sua mão e dancemos essa dança cósmica que nos transpassa raios de magia contida na morte das estrelas, galáxias e corpos celestes, lá, bem longe, na mais profunda e etérea escuridão.

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Iniciando os trabalhos com uma banda sueca formada em 2009 na cidade de Uppsala/Suécia. A banda debuta de cara com o The Seance, caminhavam no rastro daquele Heavy/Doom forjado nos anos 70, envolta em bafos de demônios e toda a sorte das bruxarias, tavam ali, entre Pentagram e Witchcraft.

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Em 2013, os caras retornam com o 2º disco Final Sacrifice, nitidamente mais lapidado e pesado, doses da maestria do Mestre King Diamond são perceptíveis também. Esse disco marca o contrato da banda com o selo estadunidense Metal Blade.

Em 2015, a banda lançou um single com duas faixas e eu nunca mais ouvi falar dos caras, espero que estejam trampando em algo novo. Pelo pequeno trecho (a baixo) parece que a coisa tá mais doida do que era.


Orne teve início em 2001 na cidade de Turku/Finlândia, continha em sua formação os Reverend Bizarre, fundada por Kimi Karki, entre os anos de 1997 e 2001, a banda se chamava Mesmer, lançou duas demos nesse ínterim, até que em 2002, sob a alcunha de Orne, uma nova demo fora lançada.

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Esses antigos materiais foram regravados e compilados no debut de 2006 – The Conjuration by the Fire, são 7 faixas que passam longe daquilo que era feito nos Reverend Bizarre, um som mais calcado no progressivo, no folk, uso de flauta e sax, Albert cantando uma vez mais de forma absurda, órgão etéreo, peso calcado na música pesada dos 70, é simplesmente lindo, ao mesmo tempo, rústico, crú, frio, melodioso, os caras tem muita manha. A parte lírica perambula pelas sendas do esoterismo, misticismo religioso, fantasia, um mergulho na escuridão.

Essa receita seria encontrada novamente 5 anos depois, no segundo play – The Tree of Life, trazendo mais 7 faixas para o deleite das almas estranhas e perdidas.


Uma banda com um lado mais good-vibe, com um colorido um tanto apático, carregado de simbolismos, um odor mofado, fúngico feito a onda ‘cogumélica’ atual, cercado por gelo e parca existência de vida, belezas rústicas, amargas e, diz-se a lenda, o encontro do ‘eu’ tanto buscado pelo inglês Mat McNerney, também conhecido pela alcunha de Kvohst. Após algumas experiências com bandas de metal extremo flertadoras com a doidivanice do avant-garde, em 2009, Mat se muda para a Finlândia, sem muito tardar, ele dá vida a sua nova ideia musicada, resgatando a psicodelia e o folk dos anos 60/70, adotando toda a estética visual também. Ele convoca outros seres que comunguem da mesma ânsia artística e em 2011 o seu 1º disco ganha vida – Dawnbearer, são 15 faixas do talvez, disco mais pop da banda, ao mesmo tempo que, talvez seja também o de aura mais sinistra.

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Em plena confraternização universal (segundo o calendário ocidental) é lançado um 7″ de 2 faixas intitulado Vainolainen. Confira a capa e odeie os caras, caso você seja um daqueles seres miseráveis que paga de bonzinho, é claro.

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Em setembro do mesmo ano, ascende ao mundo dos vivos a 2ª obra do menino inglês e sua trupe de hippies sorridentes. Em No Holier Temple, toda aquela pegada bunda mole de folk barato fica mais pra escanteio, instrumentos de sopro, coros, vocais femininos, guitarra, um apelo mais obscuro em todo os poréns da parada. Fica claro que os Hexvessel focalizavam as ideias, as aspirações ‘magickas’ de Mat, o apelo sonoro, apenas um preenchedor de vácuo, ainda bem que preenchia de forma legal. Abaixo, a faixa mais pesada do disco, pesado chega a ser um termo inusual na sonoridade deles, acredito que essa não é a proposta.

Em 2013 os caras aparecem com um EP de 5 faixas, 3 inéditas, uma nova versão para “The Tunnel At The End Of The Light”, um cover da Yoko Ono que contou com a participação da Rosalie Cunningham, Alia O’Brien é outra mina que figura na empreitada, com seus dotes ‘flaustísticos’, participa numa outra faixa. A proximidade com o Rock aumenta enquanto a com o Folk diminui.

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Essa caminhada acaba atraindo a atenção duma das mais gigantes gravadoras da música pesada, a Century Media Rec., todo o material da banda fora lançado de forma independente com a benção do próprio selo de Mat; Secret Trees. De contrato assinado e vários rolês percorridos, até nomeação para concorrer aos Grammy da Finlândia e da Noruega… no início de 2016 é lançado o 3º disco – When We Are Death. Até aqui, o disco mais bem elaborado, produzido e, claro, comercial.

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O menino Kvohst também deu vida à uma banda bem baladeira (que curto pa caraio) chamada Beastmilk, um post-punk goth alegrinho metropolitano, por algum motivo, essa banda mudou o nome para Grave Pleasures, o disco de estréia dessa nova velha ideia contou com a presença da deslumbrante Linnéa Olsson, a mina que deixou sua marca nos The Oath, ela já vazou dos GP também…


Continuando o passeio pela Escandinávia, os Devil, da Noruega.

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“Biografia – “Started” in 2009, but not active until 2010. Innovators in 2011, heroes in 2015, legends in 2020.” Fonte: facebook dos mano.

“Lyrical themes: Good and Evil, Folklore, History and Women.” Fonte: Metal Archives

A brincadeira começa com uma demo de 2010 Magister Mundi Xul, tudo que você ouvir nesse material será aquilo tudo que viria pela frente em termos de sonoridade. Extremamente fiéis as suas raízes, um pé no Doom Metal, outro, naquele metal transitório dos 70/80.

No mesmo ano, eles debutam com Time to Repent, são 10 faixas em 35 minutos, formato CD numa tiragem de 500 cópias. Ouvindo esse play, talvez você pense, esses caras são os Uncle Acid patinho feio do rolê, pelo menos eles não se vestem como viúvas dos Bitous.

Ouça na íntegra – https://www.youtube.com/watch?v=OsSCFhcJOMM

Em 2012 é lançado uma comp. com a demo e o single. No mês de março de 2013 é a vez do 2º disco ganhar vida, Gather the Sinners chega mais Sabbathico, mais lento, com algumas faixas mais compridinhas, batendo a marca de 53 minutos, uns coros risíveis e geniais ao mesmo tempo, ainda fico pensando se essa crueza/rusticidade deles é proposital, ou se os caras são amadores.

Ouça na íntegra – https://www.youtube.com/watch?v=al4IxU5XD6s

Uns 3 anos na miúda, até que no início de 2017 o To the Gallows chega com os 2 pé no meio da fuça, deixaram de lado a lerdeza do último play e chafurdaram no mais poderoso Heavy Metal manowarzero, não, não é pra tanto, os Kings são os Kings!

Só sei que esse 3º disco é um absurdo, simples, direto, chuta cus, algo muito necessário num mundo em que muito comédia quer ser todo pimposo, bem vestido, música inteligente pra boi dormir, é o comercial travestido de salvador do mundo. Que povinho mais desgraçado! O produtor do último disco, de crocs e pirando no som dá aquele ar de esperança dum Metal mais cabeça dura e menos preocupado em agradar a tudo e a todos ❤

Todos os discos da banda foram lançados pelo selo holandês Soulseller Rec.

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Falando em chutação de cu e em Heavy Fucking Metal… Venomous Fucking Maximus diretamente da terra do tio Fucking Sam, vulgo Trump (fora temer!). Fruto da junção de 4 texanos afim de fazer um som sem firula, a banda começa a criar sua sonoridade em 2010, neste ano eles lançam um material que na mó cara de pau, intitularam de EP –

Munido de 2 faixas, soando como uma demo ensaio com um vocal gravado por cima, assim fica fácil de gamar no som. Porralocagem meus queridos, transgressão e tiração de onda com um público metido a sofisticado, essa é a Lei!

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No ano seguinte, mais um EP, desta vez, todo bem esquematizado, a capa lembra um daqueles cosplay de padreco tipo monge do chatíssimo sunn)))))))^1000, são 4 faixas e os comédia escolheram a faixa mais fraca pro clipe –

Seguindo o exemplo dos Devil, em 2012 é a vez duma coletinha com o que já tinha rolado. E, também, lançaram o debut no mesmo ano. Beg upon the Light é aquele play pra bater cabeça e fazer um air guitar do começo ao fim, aqui não tem nada de virtuoso, nada de sofisticado, solos fritados ou punhetados, efeitos do raio que o parta, é cabeça duragem fedendo a oficina e buteco de quebrada, PUTA QUE PARIU! Ouvi e ainda ouço muito esse play! Riffs mano, total fucking riffs, batera redondinha…

Enfiando um pé mais fundo no Heavy Metal direto e feioso, Firewalker é lançado em 2015, o que fez a banda enfim sair do seu país e tocar pelo mundo.

A receita segue firme e forte no 3º disco, lançado em 2017.


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De volta à Finlândia para falar sobre os Vinum Sabbatum, uma espécie de Deep Purple rústica com um pé no Doom e naquelas atmosferas de igreja com órgão. O lance dos caras nem foca tanto na parte ocultista, tão mais afim de meter o loko nas profanação maléfica! Songs from the Convent é o 1º material da banda, lançado em 2012, essa capa dá uma treta, meu amigo…

No mesmo ano, eles lançam outro full, o Bacchanale Premiere (kkkk meteção de loko total fucking rules), o som continua parecendo uma gravação dum ensaio, ou uma tentativa de parecer orgânico, analógico, essas parada aí…

Um bom descanso, um bom tempo para fluidizar as ideias, captar melhor as coisas, estruturar melhor, a diferença de ginga e manha dos 2 primeiros para o Apprehensions são gritantes, agora com uma dose de Blues também, gravação mais caprichada, lembrando seus conterrâneos JATAO, um disco mais bunda mole em vista dos antecessores, porém, parece menos forçado. Acho que eles encontram a sua música.


Para encerrar essa parada, algumas bandas mais recentes com pouca bagagem que tão fazendo mó arregaço, sem afrescalhamento, o Metal Maldito respira. Amém!

Beastmaker! O Debut dos californianos foi lançado em 2016 pela Rise Above Rec., olha só os menino chegando cos 2 pé. Uma demo e um EP foi o suficiente pro tio Dorrian apostar suas fichas. O som dos lek segue o clichê atual, mas acertaram a mão nessa brincadeira, obscuro, cortante e bom para ser ouvido no escuro. O play se chama Lusus Naturae, contém as faixas inéditas além de todo o material que fora lançado antes, ou seja, música pra caralho nessa porra!

Voltando pros mares do (dizem por aí) melhor bacalhau do mundo… Da Noruega, os Dunbarrow e seu misto quente de Pentagram com Witchcraft, puta merda mano, essa parada ficou fino trato pra caralho, puta clichezaço, mas é outra que acertou a mão, os menino já vinha na correria, vai conferindo o bandcamp deles que tem bastante coisa massa lá.

Um pulinho na Suécia pra cheque-matar esse 3º Ato com mais um puta discaço de 2016, mulecada de barbinha feita, cabelinho comprido e roupas fedendo a mofo num floresta ao redor duma fogueira fazendo um som de qualidade, seguindo os passos dos mestres antigos. Uma capa totalmente sem compromisso com a estética também clichezada que se tornou um diferencial no rolê, um lance meio que marca registrada para se pertencer ao esquema, transcender sempre! Moon Coven, guardem este nome no coraçãozinho de vocês.



Eu achava que esse lance poderia ter um fim, este 3º ato foi iniciado no novembro passado e só foi retomado agora, essa porra não tem fim não, no próximo, vamo cair de cabeça nas droga mais pesada, ou de nariz… Também vai rolar um esquema nesse naipe totalmente dedicado às mulheres do rolê, mantenha a vigilância ou vá ler umas matérias no splish-splash e foda-se!



Que Coffin Joe vos amaldiçoe – Zombetero/SUD

2 comentários sobre “Um mergulho no mundo do Rock ocultista – Ato III

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